Análise preliminar dos dados de alagamentos e chuvas
Nesta etapa inicial do projeto, foram construídos alguns mapas interativos com base nos dados de alagamentos e precipitação no município de São Paulo, referentes ao período de 2018 a 2023. O objetivo é identificar padrões espaciais que possam fundamentar as decisões na etapa de simulação da mobilidade urbana sob eventos de chuva intensa.
Para facilitar a análise, foi agrupado em um único arquivo CSV os dados de alagamentos registrados pela Defesa Civil, os registros de ruas intransitáveis fornecidos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), e os índices pluviométricos correspondentes à data de cada ocorrência, obtidos do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE).
O conjunto abrange o período de 2018 a 2023. A escolha de não incluir ano de 2024 se deve ao fato de que os dados obtidos da CET deste ano estavam disponíveis apenas até o início de novembro e poderiam comprometer a comparação anual.
Ocorrências de alagamentos e ruas intransitáveis (2018–2023)
Mapas sem agrupamento
Densidade de ocorrências por km² – Subprefeituras de SP (2018–2023)
Perfil das regiões mais afetadas
A análise dos mapas indica que as subprefeituras com maior número de ocorrências são Sé e São Miguel. No entanto, essas regiões apresentam características diferentes:
- Em São Miguel, observa-se alto número de alagamentos, mas poucas ocorrências de vias intransitáveis. Além disso, os registros estão bastante concentrados geograficamente.
- Já na Sé, as ocorrências são mais diversificadas e distribuídas pela região central.
Dado o volume, a distribuição dos dados e a diversidade de meios de transporte (ônibus, metrô, ruas e avenidas), a região da Sé se mostra mais interessante para o desenvolvimento da simulação. Outro fator relevante é a presença de corpos hídricos como os rios Tamanduateí e Tietê, que podem influenciar nos eventos de alagamento.
Ocorrências sem chuva significativa
Registros de ocorrências em dias com baixa ou nenhuma precipitação (filtrando os dados com “< 5 mm” no mapa de ocorrências) chamam a atenção. Um estudo do motivo desses casos pode ser relevante para implementar o simulador. Algumas hipóteses incluem:
- A possibilidade de alagamentos residuais causados por chuvas anteriores devido a qualidade da infraestrutura de drenagem.
- A influência da topografia, que pode favorecer o acúmulo de água com mais facilidade.
- Inconsistências nos registros: como os dados de precipitação do CGE são contabilizados das 00h às 23h59 de cada dia, é possível que em alguns casos a precipitação tenha ocorrido à noite, enquanto o alagamento tenha sido registrado apenas no dia seguinte?
Verificação de dados com o Instituto Nacional de Meteorologia
Para tentar esclarecer essa dúvida, realizamos uma verificação entre os dados de pluviometria do CGE e os da estação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizada na subprefeitura de Santana-Tucuruvi.
Abaixo, apresentamos um mapa que mostra o coeficiente de correlação de Pearson entre os dados de pluviometria do CGE de cada subprefeitura e os dados da estação do INMET, abrangendo o período de 2018 a 2023, em dias em que pelo menos uma das estações registrou pluviometria. O coeficiente de Pearson varia de 0 a 1, conforme a tabela a seguir:
Coeficiente de Pearson | Interpretação |
---|---|
0,00 – 0,09 | Correlação insignificante |
0,10 – 0,39 | Correlação fraca |
0,40 – 0,69 | Correlação moderada |
0,70 – 0,89 | Correlação forte |
0,90 – 1,00 | Correlação muito forte |
A partir do mapa, é possível observar que as subprefeituras mais próximas à estação do INMET apresentam maiores coeficientes de correlação, sendo Santana-Tucuruvi o maior, com valor de 0,82, o que representa uma correlação forte. Dessa forma, a comparação entre as duas fontes de dados faz sentido principalmente nessas regiões. Em particular, temos interesse na subprefeitura da Sé cujo coeficiente é 0,74, também considerado uma correlação forte.
Com base apenas nas datas das ocorrências, construímos os gráficos a seguir, que comparam os índices pluviométricos das duas fontes na Sé e em Santana-Tucuruvi:


A análise dos gráficos mostra que, de fato, existem datas com registros de alagamento em que o CGE indicou baixa pluviometria enquanto o INMET indicou volumes mais elevados, e vice-versa. Também há casos em que ambos os órgãos registraram baixa pluviometria em dias com ocorrência de alagamentos.